Boa parte dos brasileiros já ouviu falar ou já assistiu alguma aula do Telecurso.

O telecurso é um programa de educação que foi idealizado pelo empresário Roberto Marinho e teve sua primeira versão veiculada em 1978. O Programa certificava alunos do primeiro e segundo grau após o estudo das aulas pela TV, fitas cassetes e realização de provas de certificação aplicadas pelo governo. Também teve versão profissionalizante na área de mecânica e cursos técnicos.

Com a intenção de atualizar as produções, as aulas dos cursos de 1º e 2º grau foram refilmadas no ano de 2000 e atualmente são aplicadas como Educação de Jovens e Adultos (EJA). Os programas ainda passam na TV aberta, mas na internet é possível ter acesso a todos as aulas organizadamente.

Os programas do Telecurso foram gravados com uma linguagem direcionada à TV, ou seja, onde a informação é transmitida sem a existência de interação entre emissor e receptor.

Por estar envolvida em um determinado projeto, fiz uma análise do Telecurso Profissionalizante em Mecânica. A análise inicial era referente a conteúdo, mas não pude deixar de analisar o formato dos programas e o que isso significa para a Educação a Distância.

Assim, a primeira impressão que tive, por ser totalmente leiga no assunto, é que os vídeos foram roteirizados de uma forma que causa muita curiosidade sobre os assuntos abordados. É impressionante como um programa gravado em 1995 conta com tantos recursos imersivos.

Além disso, os vídeos foram produzidos contando com algumas características que fazem toda a diferença como:

  • 15 minutos de vídeo em cada aula/unidade
  • Início do programa expondo uma situação problema
  • Prática com situações reais
  • Mudança de contextos e diferentes atores para explicar um assunto
  • Diferentes tipos de abordagens para o mesmo assunto: teoria e prática
  • Quebra constante de cenas para não cair na monotonia
  • Entrevista, diálogo, explicação em lousa, explicação no papel
  • Quadros ao longo do vídeo que chamam a atenção do aluno como “A hora do dicionário”, “Fique por dentro” e “Hora da revisão”.

Tudo isso torna a conteúdo pedagogicamente muito rico.

A comparação dos vídeos do telecurso com o que muitas instituições têm chamado de cursos a distância ou videoaula é assustadora. A forma de passar o conteúdo não é massante, chata e repetitiva como muitas videoaulas em que há um professor apresentando uma aula em um power point. Esse modelo é uma cópia fiel e, na maioria das vezes, infeliz do modelo presencial em que professores ficam lendo seus slides à meia luz.

Cada aula do telecurso, por mais chata que pareça seu tema, foi construída pensando em personagens em situação da vida real passando por determinadas situações que se tornam conteúdos e deve ser transmitida em formato de aula. Além da encenação, há recursos pedagógicos que auxiliam o aluno no entendimento de determinado conteúdo. A mudança de câmera, de cenário e personagens, interligação entre cenas, explicação detalhada no caderno ou lousa, exemplificação real no dia a dia, formatos diferentes de vídeos (entrevista, apresentação, diálogo, etc) são exemplos de recursos que precisamos inserir em nossos materiais de educação a distância.

A análise feita só me deu maior certeza que o que muitos chamam de educação a distância não é de fato educação a distância. Temos muito a aprender com os vídeos do telecurso, o formato desses programas deveria ser modelo para quem quer fazer educação a distância baseada em vídeos. Se você ou sua instituição está pensando em fazer videoaulas ou já fez é um bom exercício assistir as aulas do telecurso, deixo aqui o link para que você faça a sua análise.

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